Imagem #2

jan 20, 2020

A memória da lama

Como tornar imagem uma tragédia da proporção do desastre ambiental de Mariana? Em novembro de 2015, o município do interior de Minas Gerais foi tomado por uma avalanche de lama, após o rompimento da barragem de Fundão, administrada pela empresa Samarco. Neste artigo, Rogério Luiz Silva de Oliveira traz ao leitor uma análise de três diferentes representações da tragédia: uma reportagem televisiva do Fantástico (TV Globo); o curta-metragem de realidade virtual Rio de Lama, dirigido por Tadeu Jungle; e o documentário Memórias Rompidas, produzido pela TV Assembleia. O foco de Oliveira está em desvendar de que forma as memórias dos sobreviventes foram articuladas nessas três narrativas audiovisuais. Além disso, o autor comenta o uso de imagens de sobrevoo, do mapeamento imagético do Google Maps e do recurso da experiência em 360º, entre outros, como estratégias para transmitir o que ali aconteceu.
“A vida e a lama: três cinematografias seduzidas pela memória”
Por Rogério Luiz Silva de Oliveira
Significação (USP)
v. 46, n. 52, 2019


Intensidade domesticada

Um dos principais documentaristas do país, João Moreira Salles se voltou aos conturbados anos 1960 em No Intenso Agora. Lançado em 2017, o filme rodou o mundo e gerou debate. Para Cezar Migliorin, embora esteja tratando de política e revolução, Salles invoca um olhar conservador sobre os fatos históricos retratados. “No desejo de tudo interpretar o filme domestica muitas imagens”, argumenta. Segundo Migliorin, ao escolher falar de Maio de 1968 através da controversa figura de Daniel Cohn-Bendit, alçado a líder do movimento francês à época, o filme acaba por esvaziar a força do coletivo. O pesquisador questiona a visão de que Maio de 1968 fracassou, como a narração de Salles e a montagem de Eduardo Escorel e Laís Lifschitz parecem inferir. Neste ensaio instigante, Migliorin explica por que se opõe ao discurso geral de No Intenso Agora e mostra como o próprio documentário deixa entrever as mudanças que Maio de 1968 foi capaz de gerar.

“‘No intenso agora’, de João Salles ou como domesticar o acontecimento”
Por Cezar Migliorin
ECO-Pós (UFRJ)
v. 21, n. 1, 2018

No Intenso Agora (João Moreira Salles, 2017).

“Nada, bien, acá ando…”
 
Os filmes do Novo Cinema Argentino são marcados por um clima de apatia e falta de esperança, resultado de questões pós-ditatoriais e políticas neoliberais a todo vapor. Pelo menos é assim que Aline Vaz e Sandra Fischer enquadram a produção contemporânea de cinema de nossos hermanos. No artigo escrito pelas duas, o destaque vai para Lucrecia Martel, nome obrigatório na lista de cineastas mais importantes em atividade. Em La Ciénega (2001) e La Niña Santa (2004), a diretora põe na tela essa espécie de torpor que se abateu sobre o país. Seus personagens, quase sempre deitados em camas, enfermos ou exaustos, materializam o que Vaz e Fischer chamam de nadismo, tomando emprestado o termo cunhado pela teórica argentina Rocío Gordon. O nada – uma sensação de paralisia diante do mundo – teria contaminado a Argentina dos anos 1990 e, por conseguinte, também os roteiros cinematográficos. No cinema, entretanto, narrar o nada significaria “problematizar, estar em crise ou assumir a crise”. Prato cheio para Martel e seus personagens.
 
“Encerramentos cotidianos: corpos implosivos em Lucrecia Martel”
Por Aline Vaz e Sandra Fischer
Contemporanea (UFBA)
v. 17, n. 2, 2019


like e se inscreve no canal

Em 2017, o YouTube Brasil convidou dez youtubers negros para participar da 3ª edição do YouTube Black Brasil, por ocasião do mês da Consciência Negra. A ideia era que Luci Gonçalves, Caio Franco, Camila Nunes, Gabi Oliveira, Mari Ribeiro, Ramana Borba, Tia Má, Nátaly Neri, PH Côrtes e Murilo Araújo refletissem sobre a pergunta “quem sou eu?” em vídeos postados na plataforma. Diante desse material, as pesquisadoras Kywza Joanna Fideles Pereira dos Santos e Carolina Cavalcanti Falcão se uniram “na tentativa de compreender a produção de subjetividades negras no Brasil contemporâneo”. A partir da análise, a dupla percebeu três momentos-chave na elaboração do discurso desses jovens: o tornar-se negro (quando youtubers relatam sobre a percepção da identidade negra, o que inclui a experiência do racismo), o turning point (criação dos canais no YouTube como um marco na trajetória deles) e o tornar-se negro no YouTube (vídeos que expõem as particularidades de cada caso e se associam a agendas específicas dentro do movimento negro).

“Que negros e negras são esses(as) do Youtube? Pensando a negritude e as formas de identidade a partir das narrativas exemplares”
Por Kywza Joanna Fideles Pereira dos Santos e Carolina Cavalcanti Falcão
ECO-Pós (UFRJ)
v. 22, n. 1, 2019

YouTube Black Brasil 2017.

Conversa com Candido
 
O cineasta e professor Renato Candido concedeu entrevista a Elinaldo Meira e Tainá Oliveira no estúdio de rádio da Faculdade Paulus de Tecnologia e Comunicação (Fapcom), na Vila Mariana, em São Paulo. Paulistano da região da Brasilândia, mas nascido em família de origem nordestina, Candido falou sobre ser um professor negro no Brasil, da questão da hierarquia racial na produção de cinema e de como aborda o tema da negritude em seus próprios filmes. Além de ter roteirizado episódios para a série televisiva Pedro e Bianca (vencedora do Emmy Kids Awards 2013), Candido tem no currículo os curtas-metragens Jennifer (2011), Samba do Cururuquara (2012), Dara – A Primeira Vez Que Fui Ao Céu (2016), Simone – Estórias em Estação de Transferência (2018) e (A)feto (2018). A conversa foi publicada na Revista Passagens, vinculada ao Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal do Ceará.
 
“Negritude, periferia e cinema na obra de Renato Candido”
Por Elinaldo Meira e Tainá Oliveira
Passagens (UFC)
v. 9, n. 1, 2018


Apocalipse agora
 
Se depender das séries de ficção científica, o futuro a que teremos direito não será mesmo dos melhores. Os pesquisadores Bruno Souza Leal, Felipe da Silveira Borges e Diogo Tognolo guiam o leitor por um emaranhado de situações pós-apocalípticas ao abordarem The Walking Dead, Wayward Pines, Westworld e a brasileira 3%. O trio observa duas características em comum nessas e em outras séries veiculadas em canais de TV a cabo e plataformas de streaming: futuro rima com catástrofe e poucos de nós chegaremos até ele. Nesse sentido, o artigo sublinha que séries como Star Trek: Discovery, lançamento da Netflix de 2018, deixam claro que a vida fora da Terra não será uma alternativa idílica. Em outras palavras, “a ampliação dos horizontes não é uma conquista para todos, mas apenas um prolongamento do modelo desigual e excludente já existente no planeta Terra”.
 
“O futuro é para poucos: o destino da humanidade em séries de TV”
Por Bruno Souza Leal, Felipe da Silveira Borges e Diogo Tognolo
Contemporanea (UFBA)
v. 17, n. 1, 2019

3% (Netflix, 2016-2020).

Experiência fora do comum

Coprodução da O2 Filmes e TV Globo, Os Experientes é um dos raros exemplos de séries brasileiras cuja trama central gira em torno da velhice. No artigo de Maria Cristina Palma Mungioli, Sílvia Dantas e Rosana Mauro, é a construção social da mulher idosa que vem ao primeiro plano. Quer dizer, as autoras estão interessadas em discutir dilemas da terceira idade a partir de um recorte de gênero. A análise toma como exemplo dois episódios em particular: O Assalto, sobre uma idosa feita refém em um assalto a banco, e Folhas de Outono, que trata da (re)descoberta da sexualidade após a viuvez. Em ambos os casos, nem tudo o que parece é. Seguindo essa linha, Mungioli, Dantas e Mauro procuram mostrar como Os Experientes se empenha para “desconstruir estereótipos e busca um tratamento mais complexo do processo de envelhecimento e de sua produção de sentidos na sociedade brasileira” – de modo geral, algo infrequente na teledramaturgia.

“Imagens de gênero e envelhecimento feminino na série televisiva brasileira Os Experientes”
Por Maria Cristina Palma Mungioli, Sílvia Dantas e Rosana Mauro
Famecos (PUC-RS)
v. 25, n. 3, 2018


Corpo em movimento

O diálogo entre arte e tecnologia avançou muitíssimo nas primeiras décadas do novo milênio. Na pesquisa de Gabriela Lírio Gurgel Monteiro, a atenção recai sobre o conceito de corpo expandido em performances intermediais – trabalhos que ganham vida a partir do estreitamento entre os dois campos. Para a autora, falar de corpo expandido significa abrir caminhos para pensarmos “o corpo mediatizado, atravessado por imagens digitais ou criado a partir de dispositivos que tomam a imagem digital como ferramenta de criação”. Um dos projetos analisados no artigo é Norman, do grupo canadense 4Dart. Na performance, um dispositivo ótico produz efeitos de presença através da técnica do holograma: de maneira inusitada, o corpo do performer se funde às figuras espectrais, imagens em movimento. Nesse e em outros exemplos discutidos por Monteiro, o corpo expandido, amálgama da criação artística e do avanço tecnológico, teria o poder de ampliar sensorialidades e modificar percepções sobre o mundo que nos cerca.

“O corpo expandido e os efeitos de presença em performances intermediais”
Por Gabriela Lírio Gurgel Monteiro
VIS (UnB)
v. 17, n. 2, 2018

Norman (4Dart, 2007).