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jan 19, 2021

O horror nosso de cada dia

Um dos principais cineastas brasileiros em atividade, Kleber Mendonça Filho vem tendo sua obra investigada por um número cada vez maior de pesquisadores. Neste artigo de Lucas Procópio Caetano e Paula Gomes, o foco recai sobre o uso de elementos do gênero horror no curta-metragem Vinil Verde (2004) e nos longas O Som ao Redor (2012) e Aquarius (2016). Os autores defendem a tese de que o flerte com o gênero serve para explicitar questões de classe e de raça fundantes da sociedade brasileira. A tensão alimentada pelos recursos narrativos leva “o espectador a identificar-se com a percepção das personagens de que a qualquer momento algo terrível pode acontecer, embora nem sempre a promessa se concretize”. Ao contrário do que acontece em filmes essencialmente de horror, nos três filmes de KMF esses elementos surgem de forma inusitada para o espectador, uma vez que as tramas estariam filiadas ao fantástico, no caso do curta, e ao drama naturalista, no caso dos dois longas.

“Medos públicos em lugares privados: o horror nos filmes de Kleber Mendonça Filho”
Por Lucas Procópio Caetano e Paula Gomes
Significação (USP)
v. 47, n. 54, 2020

Aquarius (Kleber Mendonça Filho, 2016).

Gritos e sussurros
 
Rodrigo Carreiro pesquisa o universo do horror para desenvolver uma teoria que dê conta do uso do som nesse filão cinematográfico. Em um esforço acadêmico, fez um amplo levantamento de literatura para embasar as análises fílmicas. Seu objetivo é entender por que o horror estaria propenso a fazer um uso mais criativo do som, se comparado a outros gêneros. Neste texto, dedica-se a destrinchar os três componentes considerados essenciais em uma banda sonora para filmes: vozes, efeitos sonoros e música. Ancorado em exemplos que vão de Psicose (1960) a Poltergeist (1982), passando por O Exorcista (1973) e Halloween (1978), Carreiro investiga sequências construídas a partir de gritos, ruídos, trilhas incidentais e até canções de ninar. “Com as vozes, músicas e efeitos sonoros encorpando as imagens e lhes dando vida, a mobilização afetiva da plateia em direção às sensações fisiológicas relacionadas ao sentimento do horror (…) se tornou mais efetiva, transformando a experiência de assistir a um filme do gênero em algo mais visceral e impactante”.

“Por uma teoria do som no cinema de horror”
Por Rodrigo Carreiro
Ícone (UFPE)
v. 17, n. 3, 2019

Psicose (Alfred Hitchcock, 1960).

Mapa da tela
 
O cinema é um dos marcos da cidade moderna. Para Renata Rogowski Pozzo, embora o home video e o streaming sejam uma realidade, “as salas de cinema continuam, justamente por valorizarem o cinema enquanto experiência na vida cotidiana na cidade”. Neste estudo, a pesquisadora traça um panorama sobre as salas de exibição no Brasil, levando em conta a quantidade, o perfil e a localização. Em 2018, o número de salas bateu o recorde de 3.276 unidades estabelecido em 1975, atingindo a marca de 3.347. Por outro lado, se naquele ano havia uma sala para cada 32,7 mil habitantes, em 2018 passou-se a ter uma para cada 62,3 mil. Pensando uma geografia do cinema, Pozzo observa outros fenômenos, como o aumento do parque exibidor no Norte e Nordeste e a chegada do sistema multiplex nos shopping centers. Publicado durante a pandemia da covid-19, o artigo traz ainda um post scriptum ressaltando as dificuldades no atual cenário, com cinemas fechados e incertezas quanto ao futuro do setor.

“Telas migrantes: uma geografia urbana das salas de exibição comercial no Brasil do século XXI”
Por Renata Rogowski Pozzo
Rebeca (SOCINE)
v. 9, n. 1, 2020


Na roda de samba

Depois de ter explorado o universo musical em filmes como Nelson Cavaquinho (1969) e Rio, Carnaval da Vida (1978), o cineasta Leon Hirszman levou sambistas partideiros à tela no clássico Partido Alto (1982). Neste texto, Sérgio Puccini realça o uso das técnicas do documentário direto, especialmente a captação de som em tempo real, como um dos diferenciais da obra. Estruturado a partir de longos planos-sequência, o filme apresenta relação de sincronia quase total entre som e imagem, algo raro até então. Além disso, a equipe técnica responsável pela captação sonora aparece em quadro, o que expõe os bastidores do filme ao espectador, ao mesmo tempo em que sublinha o protagonismo do som. “E não poderia ser diferente, já que o interesse do filme reside aí, no registro dos cantos e depoimentos, ou seja, na expressão oral dos participantes que ocorre na situação de filmagem. É o microfone que atrai mais o interesse dos sambistas, e não a câmera”, argumenta Puccini.

“A voz e o microfone: uma análise de Partido Alto, documentário de Leon Hirszman”
Por Sérgio Puccini
Contemporanea (UFBA)
v. 17, n. 2, 2019

Partido Alto (Leon Hirszman, 1982).

JN 50

Em 2019, o mais tradicional telejornal brasileiro completou 50 anos. O Jornal Nacional é o objeto de estudo de Beatriz Becker neste artigo que analisa 13 edições levadas ao ar entre 4 e 18 de fevereiro daquele ano. Becker acredita que o telejornalismo é um vetor na construção audiovisual da vida social, traduzindo a experiência cotidiana por meio de reportagens. Em contrapartida, sabe também que essa mediação pode influenciar e até intervir nos desdobramentos dos fatos. Aqui, a pesquisadora quer saber como se deu essa construção no ano do cinquentenário do JN. Mais ainda, busca compreender como o JN se comporta no ambiente digital, algo hoje incontornável. Para ela, “a compreensão das estratégias de comunicabilidade dos noticiários televisivos e do JN exige olhar para além dos sentidos e convenções do texto, uma vez que se tornam mais complexas frente à hibridização de meios, tecnologias, textualidades e práticas de produção, circulação e consumo no ambiente convergente, e demandam procedimentos metodológicos diferenciados”.

“Jornal Nacional: estratégias e desafios no seu cinquentenário”
Por Beatriz Becker
Alceu (PUC-Rio)
v. 20, n. 40, 2020


A mocinha desviante

Frederico de Mello Brandão Tavares e Matheus Effgen Santos investigam a protagonista feminina escrita por Glória Perez em A Força do Querer. Na trama das 21h, levada ao ar em 2017 na TV Globo, Ritinha é uma mocinha, mas foge à regra. Interpretada pela atriz Isis Valverde, a personagem, segundo Tavares e Santos, desvia do padrão melodramático das telenovelas, pois não se dobra ao amor romântico nem abre mão do próprio desejo. Os pesquisadores defendem que esse perfil de mocinha é característico da obra de Perez. Em geral, elas “são jovens, desafiam valores em busca de sua liberdade, enxergam o trabalho como um caminho para a independência e como forma de apoiar suas famílias, buscam explorar novos lugares e culturas”. Para dissertar sobre Ritinha, a dupla analisou os capítulos de 1 a 10, de 111 a 120 e de 163 a 172, atenta à descrição que Ritinha faz de si, às impressões que causa nas demais personagens, e aos diálogos e às interações entre eles.

“A mocinha desviante em Gloria Perez: um estudo sobre a construção de personagens em telenovelas brasileiras”
Por Frederico de Mello Brandão Tavares e Matheus Effgen Santos
Ícone (UFPE)
v. 8, n. 2, 2020


Era uma vez, em um reino distante…

A história da Disney com os contos de fadas tem início com a animação A Branca de Neve e os Sete Anões no ano de 1937. De lá para cá, são inúmeras as tramas que se passaram em reinos distantes – muitos deles, inclusive, sem precisão de tempo ou espaço. Neste artigo, Priscila Mana Vaz mergulha no Universo Disney Princess, elaborado a partir de filmes da Disney associados a contos de fadas. Vaz divide a análise em dois grupos: filmes que contêm marcas de localização em relação ao mundo real e aqueles que não contêm marcas explícitas de localização em relação ao mundo real. Na internet, mapas criativos brincam de identificar onde cada uma das obras se passa, tendo como base indícios, às vezes mínimos, presentes nas cenas. Seria possível definir onde o Reino de Arendelle de Frozen (2013), por exemplo, estaria fincado?

“Espacialidades do Universo Disney Princess: espaços imaginados X espaços reais na construção das histórias”
Por Priscila Mana Vaz
C-Legenda (UFF)
v. 37, 2019

Frozen (Jennifer Lee e Chris Buck, 2013).