John & Gena
John Cassavetes e Gena Rowlands, marido e esposa, diretor e atriz. Em décadas de carreiras, trabalharam juntos por diversas vezes, alcançando talvez maturidade sem igual no longa-metragem Uma Mulher Sob Influência (1974), o último de uma série de obras que tematizam o universo do casamento, nos lembra Maria Chiaretti neste artigo. Sua minuciosa análise fílmica joga luz sobre “a revolta do corpo feminino contra o espaço doméstico e a originalidade formal” talhada por Cassavetes e Rowlands. Grosso modo, trata-se da história de um casal formado pelo operário Nick Longhetti, vivido por Peter Falk, e sua esposa Mabel Longhetti, defendida por Rowlands, uma mãe e dona de casa psiquicamente instável, como descreve Chiaretti. Pensado inicialmente como duas peças de três atos cada, essa origem lega ao filme uma encenação em constante diálogo com o teatro. Não à toa, o ofício da atriz é a força maior da obra: Rowlands arrebata em uma interpretação que amalgama repressão e desejo por liberdade.
“Uma mulher sob influência: a revolta de um corpo contra o espaço doméstico”
Por Maria Chiaretti
Pós (UFMG)
v. 12, n. 24, 2022
Todos juntos
É a formação de um senso de comunidade o que interessa ao pesquisador Edson Pereira da Costa Júnior no cinema de Pedro Costa. Com uma lupa, ele vai em busca de elementos em comum em três filmes do cineasta português: Ossos (1997), No Quarto da Vanda (2000) e Juventude em Marcha (2006). Filmados em Lisboa, os filmes retratam imigrantes cabo-verdianos e demais moradores da favela das Fontainhas em situações diversas sob a ausência do Estado. “Juntamente à miséria social em que vivem, acompanha-se os gestos de solidariedade, a irmandade que se cria nos encontros e na convivência entre vizinhos”, enfatiza Júnior. Nesse sentido, ele comenta estratégias utilizadas por Costa para filmar laços comunitários, como “a composição da imagem organizada em duplas” (quando o cineasta enquadra dois personagens, nunca os deixando isolados em cena), e as sequências que priorizam “o ritual de sentar-se à mesa” (algo aparentemente trivial, mas que sublinha a natureza coletiva dos personagens).
“A comunidade na expropriação: modos de alteridade no cinema de Pedro Costa”
Por Edson Pereira da Costa Júnior
Matrizes (USP)
v. 14, n. 1, 2020
Imagem-nação, imagem-povo
Ambos lançados em 2002, El Bonaerense, de Pablo Trapero, e Cidade de Deus, de Katia Lund e Fernando Meirelles, marcaram respectivamente o cinema argentino e o cinema brasileiro do início deste século. O artigo de Eduardo Dias Fonseca para a Contemporanea (UFBA) procura compreender como a imagem de nação e a imagem de povo são visualmente elaboradas nos dois filmes. Para isso, Fonseca apresenta ao leitor uma breve revisão bibliográfica de tais conceitos, levando em conta como eles podem ser acionados através da linguagem audiovisual. “Os dois filmes são bem diferentes em suas propostas estéticas, narrativas e de circulação. O que nos interessa é contrapô-los a partir das extremas diferenças e averiguar os sintomas dos processos de construção da narração do nacional via tematização das imagens-povo e imagens-nação”, explica.
“A narração do nacional em El Bonaerense (2002) e em Cidade de Deus (2002)”
Por Eduardo Dias Fonseca
Contemporanea (UFBA)
v. 17, n. 3, 2019
A origem do roteiro
Filmado em Pelotas, Rio Grande do Sul, entre 1913 e 1914, O Crime dos Banhados é considerado o primeiro longa-metragem brasileiro de ficção. Dirigido, produzido e fotografado pelo ex-ator e empresário português Francisco Santos, foi escrito por Carlos Cavaco. Baseado em um crime reportado pela imprensa, o cenário, como eram chamados os roteiros à época, serve de ponto de partida para este instigante estudo realizado por Natasha Romanzoti. Debruçando-se sobre revistas especializadas e documentos depositados na Cinemateca Brasileira, Romanzoti investiga roteiros escritos nos anos 1910 e 1920, “a fim de analisar o papel e a evolução do formato do roteiro nos primórdios do cinema brasileiro”. É um trabalho que favorece fontes de informação colhidas no mercado interno, mas que também não perde de vista referências vindas dos Estados Unidos e da Europa para contextualizar a genealogia do formato.
“O roteiro de longa-metragem nos primórdios do cinema brasileiro: surgimento e história”
Por Natasha Romanzoti
Geminis (UFSCar)
v. 12, n. 2, 2021
Videoclipe e pós-modernidade
Ainda no contexto da Guerra Fria e do neoliberalismo ascendente do presidente norte-americano Ronald Reagan, a MTV fez história quando surgiu no início dos anos 1980. A emissora dedicava sua programação a videoclipes – registros audiovisuais que definiram aquela década e impactaram a carreira de diversos artistas. Neste texto, os autores Roney Gusmão e Sérgio Araújo discorrem sobre alguns dos muitos clipes lançados pela cantora Madonna, entre eles, Borderline (1983), La Isla Bonita (1987) e Express Yourself (1989). Inseridos na cultura pop pós-moderna que despontava nos Estados Unidos, esses trabalhos relacionam a imagem de Madonna à imagem de cidades como Los Angeles e Nova York, reiterando valores urbanos, cosmopolitas e multiculturais. Para Gusmão e Araújo, “as performances de Madonna em videoclipes revelam conceitos estéticos muito equalizados aos valores pós-modernos, apontando importantes pistas para entendimento desse caótico cenário cultural no final do século XX”.
“Simulacros urbanos e Madonna: a ambientação pós-moderna dos videoclipes”
Por Roney Gusmão e Sérgio Araújo
Contracampo (UFF)
v. 38, n. 1, 2019
Glória Maria
Este trabalho de Valéria Maria Vilas Bôas entende que o jornalismo constrói sua “linguagem padrão e objetiva” espelhando “formações socioculturais e históricas mais amplas de rejeição institucionalizada da diferença”. Diante de um ambiente predominantemente branco e masculino, a pesquisadora analisa a trajetória profissional da jornalista Glória Maria, que estreou em 1971 como repórter na TV Globo. Entre os muitos feitos, coube a ela, por exemplo, fazer a primeira reportagem a cores exibida no Jornal Nacional em 1977. No entanto, ao mesmo tempo em que destaca o pioneirismo de Glória Maria, o artigo aponta que “sua imagem pública de repórter durante muito tempo, especialmente naquele momento inicial, remete muito pouco a esses dois traços definidores”, o fato de ser mulher e de ser negra, sendo “eclipsados pela construção de uma ideia de objetividade jornalística que separa discursivamente jornalista e sujeito”.
“Mulher, negra e repórter: atravessamentos entre gênero, raça, subjetividade e telejornalismo na trajetória de Glória Maria”
Por Valéria Maria Vilas Bôas
ECO-Pós (UFRJ)
v. 23, n. 3, 2020
Video Assistant Referee
O termo mencionado acima, mais conhecido por sua sigla VAR, vem sendo motivo de discussões acaloradas não só entre torcedores, mas entre comentaristas esportivos na TV. Em bom português, o tal árbitro assistente de vídeo nada mais é do que um recurso que viabiliza acesso a imagens captadas de pontos variados dos estádios, o que serviria como evidência para decisões serem tomadas a respeito de lances específicos em uma partida de futebol. Na prática, o recurso é muitas vezes posto em xeque. Neste artigo, Helcio Herbert Neto toma como material de análise quatro programas de mesas-redondas – Debate Final: Especialistas, de Fox Sports; Linha de Passe, de ESPN; Noite dos Craques, de Esporte Interativo; e Seleção, de SporTV – para aferir a receptividade ao VAR. Os debatedores comentam o jogo de estreia do Brasil na Copa do Mundo de 2018, em que houve empate por 1 a 1 contra a Suíça.
“‘Chamou o VAR!’: mesas-redondas na TV, comentário esportivo e o recurso visual na estreia brasileira no Mundial de 2018”
Por Helcio Herbert Neto
Ação Midiática (UFPR)
n. 22, 2021