O espectador sonolento
“Sempre durmo quando estou vendo filmes.” A frase é do escritor Gabriel García Márquez e surge como epígrafe neste trabalho de Eduardo Brandão Pinto sobre o cinema da lentidão. A partir de obras dos cineastas Albert Serra, Apichatpong Weerasethakul e Abbas Kiarostami, o pesquisador analisa a relação entre o espectador e o sono. “Tais diretores são alguns dos expoentes de tendências das cinematografias contemporâneas em que o filme encena uma lentidão desconcertante, em cuja extensão as conexões entre olhar e imagem são postas em risco de ruptura”, escreve Brandão Pinto. Para ele, o cinema autoral hoje estabelece um novo paradigma imagético, pois “faz circular um impulso de emancipação da imagem frente ao olhar, quando parece desobrigado de atender os fluxos de atenção de um sujeito espectador”.
“O espectador sonolento e o cinema da lentidão: Serra, Kiarostami, Apichatpong”
Por Eduardo Brandão Pinto
Galáxia (PUC-SP)
n. 47, 2022
Modo Tonacci
Há anos dedicada a investigar o cinema de Andrea Tonacci, Clarisse Alvarenga faz aqui um balanço da filmografia do cineasta. A partir de Conversas no Maranhão (1977-1983), Os Arara (1980), Serras da Desordem (2006) e Acervo Andrea Tonacci – Encontros na América Indígena (2015), ela ressalta uma característica fundamental: esses são todos filmes que põem a questão territorial no centro do debate. Ao mesmo tempo, são também filmes que revelam o modo como Tonacci conduziu sua obra: captando imagens, construindo um acervo e exibindo-o para eventualmente poder retornar aos filmes. “Ao invés de separar esses momentos, ele oferece uma possibilidade de junção em que o ato de filmar vincula-se com a montagem, com o arquivo e com a partilha das imagens, podendo essas etapas acontecerem simultaneamente em encontros e reencontros com os povos e com as imagens ao longo do tempo.”
“Cinema e arquivo na América indígena: Andrea Tonacci, encontros e reencontros”
Por Clarisse Maria Castro de Alvarenga
Ciberlegenda (UFF)
v. 1, n. 38-39, 2020
Circuito cinematográfico
Neste ensaio de Marcelo Ikeda, o leitor tem acesso a um panorama de como a curadoria e os festivais foram responsáveis por desenvolver um circuito cinematográfico ao longo do século XX. Publicado no periódico Rebeca, o texto esmiúça as múltiplas funções de um festival de cinema, entendido aqui como algo muito maior do que um ponto de encontro para se ver filmes. Especialista em cinema brasileiro, Ikeda aproveita para comentar as particularidades dessa cinematografia, sobretudo dos anos 1990 em diante. Naquela década, “os festivais de cinema no Brasil viviam um momento de expansão e amadurecimento, formando um circuito bastante amplo e diverso. Esses festivais funcionavam como uma espécie de circuito, integrando um papel decisivo para a legitimação do então chamado ‘cinema da retomada’”.
“Festivais de cinema e curadoria: uma abordagem contemporânea”
Por Marcelo Gil Ikeda
Rebeca (SOCINE)
v. 11, n. 1, 2022
Quadro a quadro
Em um relato em primeira pessoa, Maria Luiza Dias de Almeida Marques discute a formação curricular dos cursos de animação no ensino superior brasileiro. Embora também seja um convite à reflexão, o texto traz em seu cerne a proposta de dez exercícios práticos para serem realizados por estudantes. Os exercícios fazem parte da disciplina de stop-motion. “Assim como a montagem e a sonorização, o stop-motion é uma dessas disciplinas técnicas que demandam conhecimento teórico, um misto de reflexão e ação que não se dissocia”, explica Marques. A pesquisadora levanta ainda questões importantes que podem ressoar em professores da área. Entre elas, “como oferecer o curso de forma que seja entendido muito mais como uma ferramenta de expressão do que como a simples aquisição de uma técnica?”.
“Didática em cinema de animação – Como pensar um currículo”
Por Maria Luiza Dias de Almeida Marques
Rebeca (SOCINE)
v. 7, n. 1, 2018
Efeitos da pandemia na telenovela
Em 2020, o isolamento social provocado pela pandemia de covid-19 aumentou em uma hora e 20 minutos o tempo diário individual do espectador de TV aberta no Brasil. Trata-se de um dado-chave para a pesquisa de Ligia Prezia Leamos e Larissa Leda F. Rocha, interessada nas reconfigurações e estratégias de programação televisiva. Neste artigo, ambas dão atenção a como o Grupo Globo agiu no que diz respeito a suas novelas. Cinco pontos relevantes são destacados: a suspensão de gravações e exibições de telenovelas inéditas; a apresentação de reprises na TV aberta, em horário nobre; o crescimento de audiência do Canal Viva na TV paga; a disponibilização de 50 telenovelas antigas no Globoplay; e as experiências de produção durante a pandemia.
“Ficção televisiva brasileira e covid-19: reconfigurações e estratégias de programação”
Por Ligia Prezia Lemos e Larissa Leda F. Rocha
Lumina (UFJF)
v. 16, n. 1, 2022
BBB
Por que influenciadores digitais com milhões de seguidores arriscariam participar de uma edição do Big Brother Brasil? Esse questionamento foi guia para que a pesquisadora Issaaf Karhawi realizasse estudo que visa a expandir o campo da comunicação digital. Levada ao ar em meio à pandemia de covid-19, a edição 2020 do reality show da TV Globo é o objeto de análise deste artigo. A fim de investigar a prática profissional que despontou no anos 2010, Karhawai argumenta que influenciadores digitais estão ligados a outros sujeitos surgidos na internet até uma década antes – caso de blogueiros e youtubers. Apostando em convergência midiática, o BBB convidou para sua vigésima temporada quatro influencers cujos discursos são analisados pela pesquisadora. Valores como autenticidade, intimidade e performatividade atravessam a discussão.
“Notas teóricas sobre influenciadores digitais e Big Brother Brasil: visibilidade, autenticidade e motivações”
Por Issaaf Karhawi
E-Compós (COMPÓS)
v. 24, 2021
Memória desbloqueada
O conceito de memória do filósofo Henri Bergson e o aplicativo Tik Tok têm mais em comum do que você poderia imaginar. A análise dos pesquisadores Gustavo Daudt Fischer e Gabriel Rocha Palma mostra que a rede social vem funcionando “como um dispositivo de audiovisualização de construtos de memória, no qual a música pop atua de modo protagonista nesse processo”. Em outras palavras, é cada vez mais comum o usuário ativar, por meio de filmagens de si cantando e/ou dançando, suas lembranças pessoais. Neste estudo de caso, a dupla se volta ao #ChallengeMemoryUnlocked, a hashtag que viralizou desafiando tiktokers a postarem vídeos de suas reações ao ouvirem músicas que os transportavam à adolescência. Além de dissertar sobre memória e tecnologia, o artigo destrincha a linguagem audiovisual do app: da angulação da câmera ao uso de legendas.
“#Challenge Memory Unlocked: o TikTok como dispositivo construtor de memórias audiovisuais a partir da música”
Por Gustavo Daudt Fischer e Gabriel Rocha Palma
ECO-Pós (UFRJ)
v. 25, n. 1, 2022