Marighella presente
Escrita por Mário Magalhães, a biografia do político, guerrilheiro e poeta Carlos Marighella foi entregue a Wagner Moura como presente por Maria Marighella, neta do biografado, ainda em 2012. Na ocasião, Moura pretendia produzir a adaptação cinematográfica, mas logo aceitou a empreitada para também dirigi-la. Lançado em 2021, Marighella é um drama histórico com muita ação. O filme mobilizou público e crítica, fomentando inúmeras discussões. Associado à esquerda brasileira, Moura não se esquivou do debate, posicionando-se politicamente em entrevistas. Neste artigo, Sandra Fischer e Aline Vaz analisam “como esse processo transborda da tela cinematográfica, motivando ações e reações, tendo como objeto propulsor um cinema vivo, não pacificado, cronotopicamente ressignificado inclusive por meio da proliferação dos debates dele originados”.
“Marighella e circuitos comunicacionais: narrativas transbordantes”
Por Sandra Fischer e Aline Vaz
ECO-Pós (UFRJ)
v. 25, n. 2, 2022
Found footage feminista
Já na década de 1920, a diretora e montadora soviética Esfir Chub foi uma das primeiras a realizar filmes a partir de materiais de arquivo. Uma constante ao longo do século XX, artistas feministas aprofundaram esse recurso nos anos 1980, quando o cinema experimental estadunidense ganhou força. Com a chegada do digital, expandiram-se também as possibilidades de manusear arquivos e montá-los das mais variadas formas. Chamada de found footage, essa vertente da linguagem audiovisual faz do arquivo a matéria-prima para novos filmes. Em pesquisa de mestrado que deu origem a este texto, Clara Bastos Marcondes Machado examina precisamente a relação entre o found footage e as cineastas feministas. “A intenção deste artigo será realizar um levantamento e análise da prática do found footage na obra de cineastas e artistas mulheres, em especial na construção de leituras feministas sobre as imagens apropriadas.”
“Estratégias de ressignificação no cinema de found footage feito por mulheres”
Por Clara Bastos Marcondes Machado
ARS (USP)
v. 20, n. 44, 2022
Bang bang à italiana
Clássico do cinema norte-americano, o filme de faroeste foi retrabalhado pelo cineasta italiano Sergio Leone a partir dos anos 1960. Transformando o herói em anti-herói e inserindo close-ups e planos de detalhe na movimentação de câmera, Leone é considerado o pai do spaghetti western, a versão italiana do gênero. Em Por um Punhado de Dólares (1964), Por uns Dólares a Mais (1965) e Três Homens em Conflito (1966), filmes que formam a Trilogia dos Dólares, um elemento chama a atenção: o cigarro. Neste artigo, Delson de Matos Gomes e Luiz Antonio Vadico exploram seu potencial audiovisual como chave na obra do diretor. “Essas interações do cigarro com os personagens de Leone são constantemente acompanhadas da construção do silêncio cinematográfico, o qual está muito além das qualidades físicas do som, uma vez que apresenta grande riqueza semântica e potencial dramático a explorar.”
“Uma pausa para o cigarro: as interações com o cigarro no Spaghetti Western de Sergio Leone”
Por Delson de Matos Gomes e Luiz Antonio Vadico
Rebeca (SOCINE)
v. 7, n. 2, 2018
O espetáculo da tragédia
A minissérie Chernobyl foi um sucesso, mas será que despertou o senso crítico e a percepção de situações reais de perigo? Essa é apenas uma das perguntas que guiam o trabalho da pesquisadora Maria da Conceição da Rocha Ferreira. Produzida pela HBO e baseada em Vozes de Tchernóbil, livro de Svetlana Alexievich, Chernobyl apresenta o antes, o durante e o depois do traumático acidente nuclear soviético em cinco episódios. Embora tenha considerado outros conteúdos, Ferreira acredita que a minissérie seja a que melhor se encaixa na sua proposta de investigação. “É, portanto, o objeto principal – não o único – de análise deste trabalho, no qual procurarei expor o interesse da indústria do entretenimento na exploração de grandes tragédias mundiais, além de investigar o que a ficção acrescenta de apelo ao público que a consome como uma forma de divertimento”, explica.
“A representação da catástrofe pelo entretenimento”
Por Maria da Conceição da Rocha Ferreira
Significação (USP)
v. 49, n. 58, 2022
Broadcasting X Streaming
No âmbito do broadcasting, ou seja, da produção e distribuição de conteúdo audiovisual em TV, a HBO é referência. Além de investimento robusto em séries que conquistaram o mundo, trabalhou para fortalecer a própria marca através do slogan “It’s not TV. It’s HBO” (Não é TV. É HBO). Quando se fala em streaming, é a Netflix que toma a frente. Alinhada à cultura digital, investiu em conteúdo on demand, mirando nichos de consumo e fazendo uso de big data para formular recomendações. Diante disso, Carolina Santos Fagundes e Tatiana Güenaga Aneas propõem esmiúçar a indústria a partir desses dois modelos de sucesso. Para elas, “é mister notar que ambas procuram, cada uma a sua forma e em adequação ao estado do campo em que se inserem historicamente, distinguir-se da concorrência, marcando posições diferenciais e, por isso, ascendendo a lugares de poder e reconhecimento no interior do campo da produção audiovisual”.
“Modelos em disputa: uma análise dos lugares da Netflix e da HBO no campo da produção audiovisual”
Por Carolina Santos Fagundes e Tatiana Güenaga Aneas
Ação Midiática (UFPR)
n. 21, 2021
A arte de Cao
Um dos principais nomes da produção audiovisual brasileira, Cao Guimarães tem sua obra analisada neste artigo escrito por Rafael de Almeida publicado pela revista Famecos (PUC-RS). Nele, o pesquisador tenta sistematizar as “linhas do pensamento criativo” de Guimarães, a fim de compreendê-lo como artista contemporâneo. “Como aquele que parte das potências de linguagem camufladas nos detalhes mais ínfimos, materiais com os quais irá trabalhar para abri-los a um novo possível uso, a novos modos de perceber e sentir, a serem partilhados com aqueles que entram em contato com as obras.” Almeida volta à infância de Guimarães para apresentar suas origens e depois avança na análise da sua produção artística, em um esforço de cobrir diferentes pontos de atenção. Além disso, as noções de cinema de cozinha e metáfora do lago, depreendidas dos filmes, são também mobilizadas.
“Cinema de cozinha, metáfora do lago e fundamentos do processo criativo de Cao Guimarães: por uma teoria do cineasta”
Por Rafael de Almeida
Famecos (PUC-RS)
v. 29, n. 1, 2022
PPGCOM
Neste estudo, Luiz Alberto de Farias e Alexandre José Possendoro traçam um perfil evolutivo dos programas de pós-graduação em comunicação do Brasil. Com dados fornecidos pela CAPES, analisam o cenário entre os anos de 1998 e 2016. De forma complementar, fazem também um levantamento de autores que se dedicaram a estudar a evolução das pesquisas na área. Farias e Possendoro apontam que houve crescimento de 322% no número de PPGCOM no país: em 1998, 17; em 2016, 76. A região Sudeste ainda é a que concentra a maioria: são 40 programas ou 57,14% do total. “Analisar a evolução quantitativa, qualitativa e histórica da pós-graduação em comunicação no Brasil instiga uma reflexão sobre os caminhos já percorridos, o que possibilita pensar de forma mais consciente novos desenhos e estratégicas futuras para a pesquisa acadêmica brasileira.”
“A pós-graduação em comunicação no Brasil: cenário e evolução quantitativa, histórica e conceitual”
Por Luiz Alberto de Farias e Alexandre José Possendoro
Passagens (UFC)
v. 9, n. 1, 2018