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out 9, 2023

História e memória

Segundo o teórico alemão Andreas Huyssen, desde o final do século XX, a sociedade deixou de vislumbrar o futuro como promissor, voltando-se então ao passado. A preocupação com a memória tornou-se central, como forma de reavaliar acontecimentos históricos à luz do presente. Pesquisadora do cinema brasileiro, Claudia Mesquita parte dessa interpretação da cultura contemporânea para propor um inventário fílmico. Para Mesquita, “no Brasil, a emergência de discursos memoriais não é apenas sintomática, mas politicamente urgente”. Desse modo, ela procura entender como filmes nacionais têm representado esse passado e como essa representação pode gerar disputas sobre a memória coletiva no país. Entre as obras analisadas, aparecem Cabra Marcado para Morrer (Eduardo Coutinho, 1984), O Som ao Redor (Kleber Mendonça Filho, 2012), Branco Sai, Preto Fica (Adirley Queirós, 2014) e Martírio (Vincent Carelli, 2016).

“O presente como história: estéticas da elaboração no cinema brasileiro contemporâneo”
Por Claudia Mesquita
E-Compós (Compós)
v. 26, 2023

Martírio (Vincent Carelli, 2016).

Pensar o cinema

Como analisar um filme? Neste artigo, Erika Savernini defende que uma análise fílmica é mais do que separar os elementos, olhar para eles com atenção e atribuir-lhes sentido. Ao contrário de ser uma ilustração para determinada teoria, o conjunto de imagens de um filme seria a própria teoria. Nesse sentido, “a análise fílmica seria um processo de aproximação em linguagem verbal à experiência sensível do filme, como uma tradução que demanda mais que a compreensão intelectual, mas também a experienciação da obra, como centro e ponto de partida da produção de conhecimento”. No texto, Savernini chama à roda contribuições de pensadores importantes como Robert Stam, Umberto Eco e Julio Cabrera, passando por André Rui Graça, Eduardo Tulio Baggio e Manuela Penafria, para citar alguns nomes.

“Diante do filme: a análise como tradução de um pensamento audiovisual”
Por Erika Savernini
Pós (UFMG)
v. 12, n. 24, 2022



Produção goiana


A criação de políticas públicas e a chegada de novas tecnologias são dois dos fatores que teriam ajudado a impulsionar a produção audiovisual feita em Goiás, na região Centro-Oeste do país. Entre 2010 e 2020, foram realizadas 705 obras, sendo este o recorte explorado nesta pesquisa de Thais Rodrigues Oliveira, professora de Cinema e Audiovisual da Universidade Estadual de Goiás. Com o objetivo de criar um registro formal sobre o tema, Oliveira destrincha os dados coletados em catálogos de festivais, livros publicados e consultas a coletivos criativos da área. Em sua análise, reflete sobre questões da ordem do dia, como a predominância de profissionais do gênero masculino no setor. Ela discorre ainda sobre os primeiros filmes produzidos no estado, a importância dos cineclubes e o papel dos festivais para a cultura cinematográfica local.

“Filmes feitos em Goiás: um recorte recente da história audiovisual”
Por Thais Rodrigues Oliveira
Rebeca (SOCINE)
v. 12, n. 1, 2023


Aumente o som

A música popular brasileira sempre esteve presente no cinema nacional. Os pesquisadores Breno Alvarenga e Fernando Morais da Costa se atêm a três produções recentes em que canções românticas possuem papel estratégico na narrativa. Tanto em Paraíso Perdido (Monique Gardenberg, 2018) quanto em Todas as Canções de Amor (Joana Mariani, 2018) e Música para Morrer de Amor (Rafael Gomes, 2019), elas são mobilizadas por terem “a capacidade de complexificar as personagens e auxiliar em sua construção, cedendo ao espectador informações como gostos e visões de mundo”. O artigo problematiza a ideia de amor romântico na sociedade contemporânea a partir do cruzamento entre as canções e os filmes selecionados. Na trilha sonora, Belchior, Gal Costa, Marina Lima, Roberto Carlos, Tom Jobim e outras pérolas.

“Quando a música fala pela personagem: o uso de canções românticas em três filmes brasileiros contemporâneos”
Por Breno Alvarenga e Fernando Morais da Costa
ECO-Pós (UFRJ)
v. 25, n. 1, 2022

Paraíso Perdido (Monique Gardenberg, 2018).

Jornalismo imersivo

O estudo dos efeitos da mídia sobre o público se atualiza na medida em que a própria mídia passa a incorporar ferramentas advindas do desenvolvimento tecnológico. Com a veiculação de reportagens em vídeo 360°, pesquisadores passaram a também analisar esse fênomeno, tendo em foco a recepção da audiência. Neste artigo, Luciellen Souza Lima e Raul Ramalho escolheram “Bento Rodrigues – A Vida que Deixou de Existir”, conteúdo jornalístico sobre a situação de Bento Rodrigues, subdistrito de Mariana, município atingido pelo rompimento da barragem da mineradora Vale em 2015. Através de questionário a quem assistiu à reportagem imersiva, a pesquisa identificou que os respondentes tendem a considerar que terceiros estão sempre mais suscetíveis a serem influenciados pela mídia, e que, visando a proteger esses terceiros, devem apoiar medidas restritivas, como alta classificação indicativa para determinados conteúdos.

“Reportagem em vídeo 360°: um estudo do efeito percebido em terceiros”
Por Luciellen Souza Lima e Raul Ramalho
Significação (USP)
v. 49, n. 58, 2022


Na sintonia de Kondzilla

Criado por Konrad Dias e dedicado ao funk paulista, Kondzilla é hoje o maior canal de YouTube do Brasil, o segundo maior canal musical do mundo e o sétimo maior canal do mundo entre todas as categorias. Os números que impressionam são mencionados na pesquisa de Noel dos Santos Carvalho e Gustavo Padovani. Os dois buscam situar o mundo multiplataforma da marca como um dos mais inovadores no atual contexto do mercado audiovisual. Desmembramento de Kondzilla, a série de ficção Sintonia (2019), transmitida para 190 países pela Netflix, é o objeto central deste artigo. Segunda melhor estreia de série da plataforma no Brasil, Sintonia apresenta o universo do chamado Funk Ostentação a partir do cotidiano de três jovens da periferia. Mais do que detalhar a trama, o texto discute o modelo de negócios e a formação do universo da marca.

“O mundo multiplataforma Kondzilla: inovação no modelo de negócio audiovisual”
Por Noel dos Santos Carvalho e Gustavo Padovani
Alceu (PUC-Rio)
v. 20, n. 42, 2020

Sintonia (KondZilla e Johnny Araújo, 2019).

Comer com os olhos

Programas de televisão como o MasterChef são de um gênero híbrido, uma mistura de talent show e reality show. É o que defendem Karina Abdala e Fernando Andacht. Para além da execução das receitas, há uma preocupação com a construção das identidades dos participantes. Sendo assim, os depoimentos por eles dados em frente às câmeras, aqui chamados de solilóquios, e os comentários feitos pelos jurados ajudariam o espectador a se conectar com o programa de forma mais eficaz. “As tensões e alegrias no relacionamento entre os aspirantes ao prêmio do MC são tão importantes quanto sua competência culinária”, alertam Abdala e Andacht. Para ambos, “esses programas operam como uma verdadeira vitrine social, na qual os componentes essenciais do imaginário social de cada comunidade são exibidos, destacados e legitimados”.

“Representações culturais no reality show gastronômico”
Por Karina Abdala e Fernando Andacht
Comunicação, Mídia e Consumo (ESPM-SP)
v. 16, n. 46, 2019