Imagem #20

jul 2, 2024

Imagens emancipadoras

Munidos do pensamento filosófico de Jacques Rancière, os pesquisadores Gustavo Chataignier, Luiz Baez e Matheus Matarangas analisam dois clássicos do cinema: Os Mestres Loucos (1955), do francês Jean Rouch, e Barravento (1962), do brasileiro Glauber Rocha. O artigo apresenta a noção de mestre ignorante do filósofo para discutir em que medida as imagens criadas por Rouch e Rocha propõem uma quebra de hierarquia entre quem dirige e quem assiste à obra. Embora ambos compartilhem de um desejo emancipatório em relação às imagens, os autores apontam as diferenças de abordagem. Para eles, é o brasileiro quem “demanda uma postura eminentemente ativa de seu espectador, e é justamente ela que leva à emancipação”.

“O mestre diante do outro: emancipação e igualdade nas imagens de Glauber Rocha e Jean Rouch”
Por Gustavo Chataignier, Luiz Baez e Matheus Matarangas
Viso (UFF)
v. 17, n. 33, 2023


Sci-fi periférico

O cinema brasileiro dos anos 2010 produziu uma série de filmes ligados ao universo da ficção científica. Essa teria sido uma das estratégias estético-discursivas usadas para dar conta de eventos insólitos que marcaram o cenário político nacional, defende Arthur Lins. Neste artigo, o pesquisador privilegia os filmes Branco Sai, Preto Fica (2014) e Era Uma Vez Brasília (2017), ambos do cineasta Adirley Queirós, para debater não apenas os elementos sci-fi, mas a condição periférica que constitui esses elementos em sua versão brasileira. Além disso, Lins relaciona a produção contemporânea à tradição ao mobilizar o conceito de cinema de invenção, proposto pelo crítico e realizador Jairo Ferreira, quando este se referia à ebulição criativa das vanguardas dos anos 1960 e 1970.

“A (re)invenção do cinema brasileiro em seu diálogo com o gênero de ficção científica”
Por Arthur Lins
Rebeca (SOCINE)
v. 12, n. 1, 2023

Branco Sai, Preto Fica (Adirley Queirós, 2014).

A mulher no horror slasher

No embalo da estreia do último filme de sua trilogia, o diretor norte-americano Ti West tem o segundo da franquia destrinchado nesta análise de Ana Catarine Mendes da Silva e Luiza Lusvarghi. O texto considera o protagonismo feminino em X (2022) para investigar como o horror slasher ao qual o filme se vincula, subgênero propenso a assassinatos em série e violência explícita, representa as mulheres na tela. Após recuperarem características definidoras do slasher na primeira parte do artigo, as autoras analisam as personagens femininas de X uma a uma, de modo a encontrar correspondências e rupturas. Apesar de alheias aos estereótipos, as personagens continuam sendo vistas como pecadoras, “tendo mortes violentas e detalhadas, em que seus corpos são extremamente expostos”.

“Mulheres pecadoras e o horror slasher: protagonismo feminino em X (2022), de Ti West”
Por Ana Catarine Mendes da Silva e Luiza Lusvarghi
Galáxia (PUC-RS)
v. 49, n. 1, 2024

X (Ti West, 2022).

Rua Daguerre

Silêncio, longa duração e delicadeza. Para Fernanda Albuquerque de Almeida, esses seriam três dos principais atributos a alicerçar Daguerreótipos (1975), documentário dirigido pela expoente do cinema francês Agnès Varda. Interessada em como Varda retrata seus vizinhos comerciantes na parisiense Rua Daguerre, Almeida entende tais representações como “figurações da intimidade que refletem os limites das relações entre eles e as aproximações decorrentes do cuidado costumeiro com o qual a cineasta se endereçava aos seus entrevistados”. O foco da análise está no que a autora coloca como uma abertura à alteridade, ou seja, uma abertura ao outro ali retratado, em uma relação filmada repleta de tensões.

Daguerreótipos de Agnès Varda: estética e política nas figurações da intimidade”
Por Fernanda Albuquerque de Almeida
Pós (UFMG)
v. 13, n. 28, 2023


Pedagogia queer

Lançadas no streaming entre 2019 e 2021, as séries Toda Forma de Amor (Canais Globo), Segunda Chamada (Globoplay), Todxs Nós (HBO Max) e Manhãs de Setembro (Prime Video) têm em comum a discussão sobre a transgeneridade. Embora não seja algo inédito na dramaturgia brasileira, o pesquisador Diego Gouveia Moreira defende a originalidade da perspectiva política nessas abordagens. Enquadrando serviços de streaming como dispositivos também pedagógicos, ele estuda quais significações são produzidas a partir dessas narrativas e como elas se dirigem à audiência. “As séries apostam na possibilidade de se construir uma educação com discursos menos normalizadores dos gêneros”, afirma.

“Pedagogia queer em séries ficcionais brasileiras do streaming
Por Diego Gouveia Moreira
Passagens (UFC)
v. 14, 2023

Manhãs de Setembro (Amazon Prime Video, 2021).

Brasil Paralelo

“O recente êxito de projetos políticos e ideológicos conservadores em nível global não pode ser explicado sem recurso a uma investigação das forças de ordem imaginária que sustentam tais projetos.” É assim que o pesquisador Erick Felinto abre este artigo focado em investigar a imaginação reacionária a partir da série documental Pátria Educadora (2020), realizada pela Brasil Paralelo, produtora associada à extrema direita no Brasil. Em sua argumentação, Felinto busca demonstrar como, para além dos elementos semióticos mobilizados na construção da imagem, a série investe na criação de uma atmosfera própria através de efeitos não semânticos, como som e iluminação, para potencializar a emissão de suas mensagens.

“‘Nenhum Brasil existe’: atmosferas conspiratórias e cosmovisão reacionária nos documentários da Brasil Paralelo”
Por Erick Felinto
Significação (USP)
v. 50, 2023


O Cantor Mascarado

Assistir à televisão e postar nas redes sociais. Essa combinação tornou-se tão comum que mereceu um termo próprio: TV Social, alcunha pela qual especialistas da área costumam se referir à prática. Neste artigo, um grupo de pesquisadores escolhe o reality show musical The Masked Singer Brasil (TV Globo) como estudo de caso para demonstrar a teoria na prática. O time se debruça sobre vídeos postados no perfil do programa no Instagram de modo síncrono com o conteúdo exibido na TV – e observa todas as interações. Ainda que estimuladas pela produção do reality, fica claro que a TV Social só acontece a partir “ dos usos, dos desvios e das apropriações dos usuários”.

“TV Social no Instagram: uma análise do The Masked Singer Brasil
Por Francisco das Chagas Sales Júnior, Fabricia Kelly Guedes Paiva, Valquíria Aparecida Passos Kneipp e Marcelo Gomes Bolshaw
Ação Midiática (UFPR)
n. 27, 2024