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jan 13, 2022

O passado no presente

Primeiro longa-metragem de ficção do cineasta Kleber Mendonça Filho, O Som ao Redor é o objeto de análise de Ismail Xavier neste ensaio publicado na revista Galáxia (PUC-SP). Ao discorrer sobre sua construção narrativa, o teórico dá destaque ao modo como o roteiro trabalha a presença do passado colonial no Recife contemporâneo. Para Xavier, “há no filme de Kleber uma arqueologia que permite observar as camadas de tempo que se acumulam no tecido social da grande cidade, evidenciando a sobrevivência de relações de poder e formas de sociabilidade”. O ensaio fala da experiência de “modernização truncada” ou “modernização incompleta” sobre a qual os conflitos de O Som ao Redor são erguidos. Abordando tensões urbanas de maneira singular, o filme “devolve a questão da violência ao autoritarismo da tradição patriarcal”. Seu desfecho inesperado, segundo o autor, “vale como uma vitória da astúcia do oprimido”.
 
O som ao redor: arqueologia do vertical moderno no Recife”
Por Ismail Norberto Xavier
Galáxia (PUC-SP)
v. 46, n. 46, 2021

O Som ao Redor (Kleber Mendonça Filho, 2012).

Cinema e sociologia

Além do supracitado O Som ao Redor, Vitor Zan convoca à roda Casa Grande (2014)
e Que Horas Ela Volta? (2015) para comentar a relação dos três longas-metragens com a obra do sociólogo pernambucano Gilberto Freyre. Interessado em questões socioterritoriais, o artigo privilegia a forma como os realizadores retratam a coexistência de pessoas de classes diferentes, sobretudo, no ambiente doméstico. Nesse sentido, algumas das discussões propostas em Casa-grande & Senzala, clássico freyriano da década de 1930, ainda reverberam na atual produção cinematográfica, afirma Zan. Neste artigo, ele aponta as confluências, sem perder de vista o que diferencia os filmes do livro. Para Zan, os cineastas são mais severos às classes dominantes do que fora o sociólogo. Ademais, seus “filmes parecem introduzir no universo freyriano algo da dialética marxista, como se respondessem às incontáveis críticas sofridas por Freyre por parte de intelectuais alinhados a ideologias de esquerda”.

“Releituras de Gilberto Freyre pelo cinema brasileiro”
Por Vitor Zan
Rebeca (SOCINE)
v. 9, n. 1, 2020

Que Horas Ela Volta? (Anna Muylaert, 2015).

Pode a subalterna cantar?

É a partir do célebre livro Pode o subalterno falar?, da escritora indiana Gayatri Chayatri Spivak, que os pesquisadores Aline Lisboa e Osvando José de Morais escrevem sobre o filme Amor, Plástico e Barulho. Sob direção de Renata Pinheiro, o longa-metragem de 2013 conta a história de Jaqueline (Maeve Jinkings), uma cantora de tecnobrega, e Shelly (Nash Laila), dançarina que sonha em se tornar intérprete, na periferia do Recife. O dia-a-dia de Jaqueline e Shelly estaria condicionado a uma certa ideia de subalternidade vivenciada pelas duas – construída na narrativa de Pinheiro e esmiuçada por Lisboa e Morais neste artigo. No filme, haveria “uma tentativa de Pinheiro em demonstrar participação ativa das personagens em um cenário periférico conflituoso, mesmo apresentando limitações em suas falas e até mesmo concordando, muitas vezes, com o discurso hegemônico branco, patriarcal, capitalista e percebendo-o como modo de sobrevivência”.
 
“Quanto vale o show dos subalternos? Pop stars de periferia em Amor, Plástico e Barulho de Renata Pinheiro”
Por Aline Lisboa e Osvando José de Morais
Contemporanea (UFBA)
v. 18, n. 3, 2020

Amor, Plástico e Barulho (Renata Pinheiro, 2013).

Na Amazônia paraense

Você já ouviu falar de Um Dia Qualquer? Dirigida por Líbero Luxardo em 1962, a obra é considerada um marco no cinema nacional por ser o primeiro longa-metragem de ficção totalmente produzido na Amazônia paraense. Embora criticado pela imprensa à época, o filme hoje é uma espécie de documento da Belém do início dos anos 1960. Neste artigo, Raissa Lennon Nascimento Sousa e Luciana Miranda Costa jogam luz sobre as personagens femininas, priorizando discussões em torno da representação do corpo da mulher no cinema amazônico. Fazem isso com o auxílio do pensamento do filósofo francês Michel Foucault e seu conceito de corpo dócil historicamente associado à mulher – em verdade, uma forma de tentar controlá-lo. Antes disso, no entanto, as pesquisadoras apresentam uma breve biografia do cineasta paulista responsável pelo filme e também um panorama da pouca difundida produção paraense.

“O corpo da mulher no cinema amazônico: a dicotomia entre a disciplina e a liberdade”
Por Raissa Lennon Nascimento Sousa e Luciana Miranda Costa
C Legenda (UFF)
v. 1, n. 38-39, 2020


O hospital midiatizado

O ano de 2021 foi marcado pela segunda onda de casos e mortes decorrentes da covid-19 no Brasil. Em janeiro daquele ano, o Jornal Nacional veiculou, em 26 edições, mais de doze horas de conteúdo sobre a pandemia, totalizando 309 matérias. Desse total, 36 abordaram diretamente o hospital como elemento central. “O jornalismo teve que se adaptar às dificuldades impostas pela pandemia, e os hospitais foram amplamente midiatizados de modo a exibir as situações mais drásticas. A peste colocou em cena o espaço hospitalar, atravessado pelas câmeras de televisão e celulares. A agonia da morte se converteu em espetáculo, e o hospital, em morredouro (…)”, escrevem Denise Cristina Ayres Gomes e Renata Rezende Ribeiro. Neste texto, as autoras refletem “sobre o hospital como constructo simbólico da peste do século XXI”, apostando em pesquisa de caráter exploratório e qualitativo, também calcada na sistematização de dados referentes ao arquivo do JN.

“Memória e imaginário da Covid-19 no Jornal Nacional: o hospital no cotidiano midiatizado”
Por Denise Cristina Ayres Gomes e Renata Rezende Ribeiro
Lumina (UFJF)
v. 15, n. 2, 2021


K-drama ganha o mundo

Estados Unidos e Reino Unido são ainda protagonistas no fluxo global de conteúdo televisivo, mas não é de hoje que vêm sentindo a ameaça de um novo player: a Coreia do Sul. A pesquisadora Daniela Mazur assume o papel de apresentar ao leitor a história da ascensão da TV sul-coreana a partir dos anos 1990, tendo como foco o chamado K-drama. De matriz melodramática, a ficção seriada é o carro-chefe da produção e da exportação audiovisual do país asiático. Se, no início, circulava entre China, Hong Kong e Taiwan, hoje, faz sucesso inclusive no Brasil. Aqui, Mazur dá informações sobre o contexto sociopolítico e comenta os incentivos públicos e privados que subsidiaram não só o boom do K-drama, mas de outros gêneros. A autora afirma que, “em 2002, a Coreia do Sul conseguiu que as exportações de conteúdo televisivo superassem as importações de produtos de mesmo caráter, se mantendo independente de importação de programação estrangeira” – um feito que indica haver uma mudança cultural em curso.

“A indústria televisiva sul-coreana no contexto global”
Por Daniela Mazur
Ação Midiática (UFPR)
n. 22, 2021


Dia dos Namorados

No dia 24 de maio de 2015, no intervalo do Fantástico (TV Globo), foi ao ar o comercial Casais, campanha de O Boticário para o Dia dos Namorados. Além de casais heterossexuais, a marca também trazia casais do mesmo sexo como personagens. Alvo de discurso homofóbico, o comercial mobilizou a imprensa, sendo assunto de notícias, reportagens e artigos de opinião. Em estudo publicado na revista Comunicação, Mídia e Consumo (ESPM-SP), José Antônio Ferreira Cirino e Elton Antunes analisam 81 materiais jornalísticos dedicados à polêmica. Dividido em dez categorias de análise, os pesquisadores levam em conta, por exemplo, o posicionamento dos veículos, os termos utilizados e a abordagem de temas correlatos. “O acontecimento ‘Casais de O Boticário’ foi uma possibilidade de perceber que ao passo em que fortalecemos ações voltadas ao amor igualitário e diverso, surgem forças opostas que tentam diminuir essa possibilidade de ressignificação na sociedade, por meio dos discursos de ódio”, concluem.

“Análise de conteúdo do acontecimento jornalístico ‘Casais de O Boticário’”
Por José Antônio Ferreira Cirino e Elton Antunes
Comunicação, Mídia e Consumo (ESPM-SP)
v. 17, n. 49, 2020

Casais de O Boticário (2015).