O mundo do menino
Dirigido por Alê Abreu, O Menino e o Mundo (2014) é uma animação brasileira que encantou. Indicada ao Oscar e sucesso de público em países europeus, o longa-metragem nos apresenta à infância de Cuca, uma criança que vê o pai partir do campo para a cidade em busca de trabalho e decide ir atrás dele. Aqui, o menino é o agente da narrativa – e o público vê o mundo através de seus olhos. “Linhas mais retas para as objetificações para o que já está dado, pronto; traços arredondados para os afetos, a música, a poesia, a imaginação do menino; assim se desenrola o desenho da história”, analisam Fabiana Paula Bubniak e Dilma Beatriz Rocha Juliano. Neste texto, as autoras iluminam o modo como o filme trabalha uma linguagem da infância, destacando não só os recursos visuais, mas também os sonoros.
“O menino e a linguagem: infância e voz em O menino e o mundo”
Por Fabiana Paula Bubniak e Dilma Beatriz Rocha Juliano
Significação (USP)
v. 49, n. 57, 2022
Mr. Cavalcanti
Nascido no Rio de Janeiro em 1897, Alberto Cavalcanti foi um autêntico homem de cinema, como coloca Virginia Flores em texto dedicado ao seu legado à sétima arte. Já nos anos 1920, participou de movimento cinematográfico de vanguarda em Paris, mas foi mesmo nos anos 1930 em Londres que veio a ganhar notoriedade. Como produtor responsável pelo General Post Office Film Unit, levou a cabo experimentações no uso do som que redefiniram o modo de se fazer cinema, sobretudo, o documental. Festejado na Europa e ainda pouco conhecido no Brasil, Cavalcanti tem sua obra detalhada neste artigo escrito por Flores.A autora comenta desde seu primeiro contato com John Grierson, considerado o pai do documentário britânico, até a teoria do sound design, fortemente influenciada pelo trabalho de Cavalcanti e seus colegas.
“A tesoura poética de Alberto Cavalcanti”
Por Virginia Flores
ECO-Pós (UFRJ)
v. 25, n. 1, 2022
Cinema negro
Neste artigo, o trio Laila Thaise Batista de Oliveira, Luciana Oliveira Vieira e Naira Évine Soares tem como objetivo mapear festivais de cinema negro da região Nordeste do Brasil e identificar suas principais características. Através de questionário online, equipes de nove eventos proveram dados sobre o atual cenário do setor. Em comum, boa parte deles surgiu em ambiente universitário, hoje mais diverso devido à Lei de Cotas Raciais em vigor desde 2013. As pesquisadoras também identificaram forte presença negra feminina em funções de liderança – um dado importante para elas, tendo em vista ser este um mercado dominado por homens brancos. “Sempre tivemos ideias nas cabeças, o sistema que sempre operou para impedir que as câmeras chegassem nas nossas mãos”, escrevem.
“Espaço-quilombo: notas sobre mostras e festivais de cinema negro no Nordeste brasileiro”
Por Laila Thaíse Batista de Oliveira, Luciana Oliveira Vieira e Naira Évine Pereira Soares
Rebeca (SOCINE)
v. 11, n. 1, 2022
Construção de personagem
O artigo de Sérgio Nesteriuk e João Massarolo nos lembra que criar e desenvolver bons personagens é tarefa complexa – e mais ainda em um contexto transmidiático. Publicado na Geminis, periódico vinculado à Universidade Federal de São Carlos, o trabalho começa por considerar aspectos teóricos, analíticos e criativos na construção de um personagem. Em um segundo momento, discute a dimensão interna, associada a perfis psicológicos, e a dimensão externa, que diz respeito a dinâmicas visuais. Entre exemplos de conteúdos nacionais e internacionais, Nesteriuk e Massarolo complexificam o debate quando incluem o desafio de se criar personagens para ambientes multiplataformas. “O roteirista que na época das mídias convencionais se dedicava a escrever obras únicas, quer seja para cinema ou televisão, se depara na era da convergência com um público ávido por consumir conteudos nas plataformas transmídia”.
“Criação e desenvolvimento de personagem em multiplataformas”
Por Sérgio Nesteriuk e João Massarolo
Geminis (UFSCar)
v. 11, n. 3, 2020
Crônica de cinema
Este é um estudo sobre a relação entre a crônica de jornal e a chegada do cinema ao Rio de Janeiro no fim do século XIX. A pesquisadora Danielle Crepaldi Carvalho oferece ao leitor uma análise minuciosa de textos cronísticos publicados na imprensa carioca entre os anos de 1894 e 1922. Em sua argumentação, afirma que tais textos tomavam “como tema ou estrutura os primeiros aparatos tecnológicos voltados à captura e à exibição de imagens em movimento que aportaram na capital brasileira”. Ou seja, eram textos também preocupados com “o forjamento de uma linguagem permeada pelo desenvolvimento técnico, sobretudo a cinematografia”. Em cima desse material, Carvalho explora como os cronistas traduziram em palavras a recepção àquela novidade, mostrando que houve tanto endosso quanto repúdio por parte da imprensa.
“Uma cidade grafada em luz: o cinema na crônica jornalística carioca (1894-1922)”
Por Danielle Crepaldi Carvalho
Ars (USP)
v. 20, n. 44, 2022
Amor, sexo & política
“Pelo prazer de ser uma mulher homossexual. A minha roupa curta não é um convite para você. Mulher preta não é só sexo. Eu não preciso vestir 36. Eu não mereço ser estuprada. Drags, trans e travestis, direito é bom. Não à LGBTfobia.” Com essas palavras, a apresentadora Fernanda Lima abriu a décima temporada de Amor & Sexo. Exibido pela TV Globo entre 2009 e 2018, o programa ganhou mesmo musculatura quando, a partir de 2016, passou a se apresentar à audiência “como um espaço de discussão política”, afirmam os pesquisadores Diego Gouveia Moreira, Daniela Nery Bracchi e Cristina Teixeira Vieira de Melo. Neste artigo, eles analisam o programa associando-o às reivindicações de grupos feministas e LGBTQIAP+ e recorrendo aos escritos de Judith Butler, Paul B. Preciado e Michel Foucault.
“‘Vamos sabotar as engrenagens desse sistema”: gênero e sexualidade no programa Amor & Sexo”
Por Diego Gouveia Moreira, Daniela Nery Bracchi e Cristina Teixeira Vieira de Melo
Contemporanea (UFBA)
v. 18, n. 3, 2020
Jornalismo audiovisual
O que é uma websérie documental multimídia? Em meio à profusão de novos formatos audiovisuais, o pesquisador José Jullian Gomes de Souza vai atrás de uma resposta. Tratando de jornalismo digital, convergência midiática e desenvolvimento de linguagens, Souza tenta definir o gênero, identificar lacunas em torno de sua conceituação e situar a produção em um proposta de modelo de negócio para o mercado jornalístico. Entre as principais características de uma websérie estariam a narrativa interativa, o acesso via dispositivos móveis, a curta duração e um conteúdo especializado. “O que se coloca em questão de reflexão é como essas novas formas de narrar histórias e construir novas possibilidades aos jornalistas e ao jornalismo têm reconfigurado, desde então, o jornalismo audiovisual digital”, afirma Souza.
“Websérie documental multimídia: (re)pensando conceitualmente um formato audiovisual noticioso na era digital”
Por José Jullian Gomes de Souza
Passagens (UFC)
v. 13, 2022