Filmar o inimigo
A deposição da presidenta Dilma Rousseff foi registrada em uma série de documentários, como em O Processo (2018), Democracia em Vertigem (2019) e Alvorada (2021). Neste artigo de Márcio Zanetti Negrini e Guilherme Fumeo Almeida, ganha destaque o longa-metragem dirigido por Douglas Duarte, Excelentíssimos (2018). Por meio de análise fílmica, os autores buscam compreender como se deu a construção midiática da comoção social pelo impeachment de Rousseff. Para isso, analisam materiais jornalísticos, peças de propaganda política e até emissões ao vivo via redes sociais presentes no filme. Em diálogo com os teóricos Jean-Louis Comolli e Georges Didi-Huberman, Negrini e Almeida se propõem a identificar o que seriam as imagens dos inimigos e os modos como eles são filmados, entendendo inimigos “como os sujeitos e organizações que colocam em xeque a democracia brasileira em apoio ao golpe institucional”.
“Reconfigurar as imagens e filmar o inimigo: aspectos das emoções no documentário Excelentíssimos”
Por Márcio Zanetti Negrini e Guilherme Fumeo Almeida
ECO-Pós (UFRJ)
v. 25, n. 2, 2022
O sujeito cerebral
A professora de estudos de mídia da Universidade de Amsterdã Patricia Pisters sugere uma continuidade ao pensamento de Gilles Deleuze. Se o filósofo francês conceituou a passagem da imagem-movimento para a imagem-tempo no cinema, Pisters oferece a definição de um terceiro estágio: a imagem-neuro. “Nesse novo tipo de imagem, os filmes parecem rodados dentro da mente dos personagens, pois vemos recorrentemente pessoas conectadas a algum dispositivo de leitura cerebral”, explica Isadora Meneses Rodrigues neste denso artigo. A partir da noção proposta por Pisters, Rodrigues toma como objeto o filme eXistenZ (1999), de David Cronenberg, para debater o real e o virtual, os dois polos da imagem-neuro. “Na obra, os personagens estão conectados a dispositivos que permitem a manipulação dos seus cérebros, fazendo com que os limites entre realidade e virtualidade sejam constantemente questionados.”
“O cérebro no cinema contemporâneo”
Por Isadora Meneses Rodrigues
Galáxia (PUC-SP)
n. 46, 2021
Viva Clementina
É com profundidade que o pesquisador Roberval de Jesus Leone dos Santos traça um perfil da cantora Clementina de Jesus neste artigo publicado no periódico Contemporanea. A partir de análise da representação audiovisual da sambista, o autor discute “em que termos e para quais finalidades” essa representação se deu. Ele interpreta vida e obra de Clementina de Jesus à luz de discussões sobre racismo, desigualdade social e mediação cultural, entre outros pontos. “CJ não é exemplo único de estereótipo representacional – como negra, como mulher e como anciã –, mas, certamente, compreendendo a problemática que ela insere no contexto brasileiro, faz emergir milhares, senão milhões, de casos que, de modo um pouco assombroso, persistem e se renovam no Brasil, como se a reprodução do estereótipo fosse a própria engrenagem das relações de dominação que perpassam gênero, etnia e faixa etária.”
“Representação audiovisual de Clementina de Jesus”
Por Roberval de Jesus Leone dos Santos
Contemporanea (UFBA)
v. 20, n. 1, 2022
Vale a pena ver de novo
Desde 2020, o Globoplay tem investido no relançamento de telenovelas antes exibidas na TV aberta. O estudo de Eutália Ramos e Gabriela Borges visa entender “se o retorno de telenovelas clássicas da TV Globo por meio do Globoplay proporcionam maior visibilidade, consumo e engajamento para a plataforma”. Nesse sentido, a dupla acompanhou o primeiro mês de divulgação online de dez novelas relançadas pelo Globoplay, coletando 123 publicações nas contas oficiais no Facebook, Instagram e Twitter. A análise das estratégias de transmidiação adotadas pela plataforma é o que orienta o artigo de Ramos e Borges. “Entendemos a transmidiação como uma estratégia desenvolvida pelas empresas para ampliar a divulgação de seus produtos no digital e conquistar o público presente neste ambiente, principalmente por tratarmos de um produto televisivo que está presente no streaming”, afirmam.
“Telenovelas clássicas no Globoplay: estratégias de transmidiação para o (re)lançamento das obras”
Por Eutália Ramos e Gabriela Borges
Geminis (UFSCar)
v. 14, n. 1, 2023
Produção local
Em maio de 2018, a Netflix oferecia um catálogo global com 14.996 títulos. No Brasil, o assinante tinha acesso a 3.953, sendo que 627 eram produções originais ou licenciadas exclusivamente para distribuição nacional. Desse total, 58% foram realizadas pelos Estados Unidos. Considerando países anglófonos, o percentual subia para mais de 75%. Países latino-americanos foram responsáveis por produzir apenas 3,92% de originais ou licenciados com exclusividade. Nove obras eram brasileiras. Por quê? Para responder o questionamento, Tomaz Affonso Penner e Joseph Straubhaar esmiúçam detalhe por detalhe do caso neste artigo. Embora a dependência cultural da América Latina em relação aos Estados Unidos seja ainda um fato, os autores são otimistas. “Apesar de serem numericamente superiores na Netflix, as realizações norte-americanas não são absolutas e dividem espaço com uma quantidade crescente de títulos latino-americanos.”
“Títulos originais e licenciados com exclusividade no catálogo brasileiro da Netflix: um mapeamento dos países produtores”
Por Tomaz Affonso Penner e Joseph Straubhaar
MATRIZes (USP)
v. 14, n. 1, 2020
Apagão no Amapá
Como se deu a cobertura do Jornal Nacional sobre o maior apagão da história do Brasil? O fato aconteceu no Amapá no ano de 2020, quando 13 dos 16 municípios do estado ficaram sem luz. Embora tenha afetado cerca de 600 mil habitantes, o artigo de Alan Milhomem da Silva e Flávia Coimbra Santos do Carmo chega à conclusão de que o principal telejornal do país reservou apenas 55 minutos para o tema ao longo de 28 edições levadas ao ar. “Ou seja, mesmo diante da gravidade do apagão no cenário amapaense, para o restante do Brasil, a partir da cobertura do Jornal Nacional, esse caso não teve tamanha gravidade”, refletem os pesquisadores. Para eles, o estudo demonstra que o foco do telejornal, ainda que diante de uma tragédia, permanece no eixo São Paulo-Brasília-Rio de Janeiro.
“De invisível para apagado: a cobertura do Jornal Nacional sobre o apagão no Amapá”
Por Alan Milhomem da Silva e Flávia Coimbra Santos do Carmo
Cambiassu (UFMA)
v. 18, n. 31, 2023
Imagem, som e web
Instituições culturais foram profundamente impactadas pelas transformações tecnológicas das últimas décadas. No que toca à preservação do patrimônio audiovisual, o desafio parece ser ainda maior. Interessados em entender como Museus da Imagem e do Som brasileiros estão atuando no ambiente digital, Ana Cecília Rocha Veiga e Isac Daniel Santana apresentam “métodos, técnicas e ferramentas que estão sendo utilizados por MISes para catalogação, gestão e difusão de seu acervo museológico digital”. Com isso, esperam auxiliar “tanto instituições que já possuem acervos na Web e desejam ampliar sua atuação no ciberespaço, quanto aquelas que pretendem começar a implementar seus acervos em ambientes digitais e, por isto, demandam referências”. A dupla aponta uma priorização do uso de redes sociais em detrimento da criação ou manutenção de um website, o que acabaria impedindo, por exemplo, investimento em coleções online e repositórios digitais profissionais.
“A presença dos museus da imagem e do som na web”
Por Ana Cecília Rocha Veiga e Isac Daniel Santana
Comunicação & Informação (UFG)
v. 26, 2023